A radiologia odontológica constitui-se num ramo especializado da imagem médica voltado à avaliação das estruturas dentoalveolares, maxilofaciais e adjacentes, sendo indispensável para o diagnóstico, o planejamento terapêutico e o acompanhamento de procedimentos clínicos e cirúrgicos. Desde a introdução dos raios X na odontologia por Wilhelm Röntgen, em 1896, as técnicas evoluíram de exposições intraorais rudimentares para métodos digitais de alta resolução, reduzindo de maneira significativa a dose de radiação e aumentando a acurácia diagnóstica (WHITE; PHAROAH, 2023). Hoje, a prática clínica se apoia na combinação de princípios físicos de formação da imagem, conhecimentos anatômicos detalhados e protocolos rigorosos de radioproteção para garantir segurança e qualidade assistencial.
Os exames intraorais ainda formam a base da prática radiográfica diária, pois oferecem excelente definição para detecção de cáries, avaliação periodontal e mensuração endodôntica. Nessas tomadas, fatores como quilovoltagem, miliamperagem, tempo de exposição e distância foco‑filme são ajustados para otimizar contraste e minimizar a distorção geométrica. A introdução de sistemas de sensores digitais — seja em tecnologia CCD/CMOS ou placas de fósforo — ampliou a latitude de exposição, facilitando a pós‑processamento de imagens sem perdas diagnósticas e reduzindo em até 60 % a dose em comparação aos filmes convencionais (SILVA; BERTOLI, 2021).
Quando se exige uma visão panorâmica ou se busca a avaliação inicial de anomalias ósseas, a radiografia panorâmica fornece uma síntese morfológica de ambos os arcos dentários, da articulação temporomandibular e dos seios maxilares. O método, embora sujeito a sobreposição de estruturas e distorções magnéticas, é de baixo custo e contribui para o rastreamento de lesões císticas, dentes impactados e fraturas em trauma maxilofacial. Para detalhamento tridimensional, a tomografia computadorizada de feixe cônico (CBCT) tornou‑se o padrão‑ouro no planejamento de implantes, endodontia avançada e cirurgia ortognática, pois oferece voxels isotrópicos na ordem de dezenas de micrômetros e permite mensurações lineares e angulares com erro inferior a 1 % (FARMAN; SCARFE, 2009).
A adoção do princípio ALARA (“as low as reasonably achievable”) permanece norteadora das condutas, exigindo justificativa clínica, otimização técnica e limitação das exposições cumulativas. Protocolos de colimação retangular, blindagens plumbíferas e treinamento contínuo da equipe reduzem substancialmente o risco estocástico, enquanto diretrizes internacionais como a ICRP 105 consolidam valores‑guia de dose para cada modalidade (ICRP, 2007). Nos ambientes acadêmicos e assistenciais, a educação permanente em radioproteção é mandatória, reforçando a responsabilidade ética do cirurgião‑dentista de balancear benefício diagnóstico e segurança biológica.
As inovações atuais convergem para a integração de inteligência artificial e radiômica, capazes de reconhecer padrões patológicos em grande escala de dados, agilizar relatórios radiográficos e prover apoio à decisão clínica. Algoritmos de aprendizagem profunda já apresentam sensibilidade superior a 90 % na detecção de lesões periapicais e na segmentação automática de vias aéreas superiores, antecipando uma prática mais personalizada e preditiva. Paralelamente, a impressão 3D de modelos obtidos por CBCT revoluciona a reabilitação protética e a cirurgia guiada, evidenciando a sinergia entre imagem, planejamento virtual e manufatura aditiva.
Por fim, cabe salientar que a radiologia odontológica contemporânea se ancora em bases científicas sólidas, mas também em valores de responsabilidade social, acessibilidade e preservação da saúde pública. A constante atualização tecnológica deve vir acompanhada de auditorias de qualidade, pesquisa translacional e formação ética do profissional, garantindo que os benefícios diagnósticos se estendam equitativamente à população. Assim, a disciplina sustenta‑se como elo imprescindível entre o conhecimento físico‑biológico e a prática clínica segura, contribuindo decisivamente para a excelência da odontologia moderna.
Grau - MÓDULO IV - Radiologia Odontolagica.pdf
Radiologia Odontologica FAM aula 2.pdf
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